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Apraxia da Fala na Infância ou Dispraxia verbal?

Foto do escritor: Mônica H Schulze FonoaudiólogaMônica H Schulze Fonoaudióloga

O que é praxia?

A praxia é a capacidade do indivíduo realizar um ato motor coordenado e complexo, que foi aprendido anteriormente de forma voluntária, em função de um pensamento ou de uma intenção. Por exemplo: falar, desenhar e escrever. Esses movimentos, após treinados e aprendidos, tornam-se automáticos. Em outras palavras, a praxia é a capacidade do cérebro planejar, executar e automatizar um movimento aprendido.

A praxia está relacionada com outra função do neurodesenvolvimento?

Segundo Piaget, o desenvolvimento da praxia caminha lado a lado com o desenvolvimento da inteligência. A função práxica inicia-se junto com a função simbólica nas crianças. Para elaborar e programar corretamente um movimento, de forma a torná-lo automatizado, a criança necessita de um conhecimento adequado do seu corpo, da consciência de sua ação no ambiente e da neuromaturação.

O que é o termo dispraxia ou apraxia

Quando a criança não possui a capacidade de planejar e executar movimentos motores voluntários necessários à produção de uma função específica, mesmo tendo habilidade para tal, dizemos que ela apresenta dispraxia ou apraxia. Quando ocorre nos movimentos de fala, é denominada dispraxia verbal ou apraxia da fala. Nessas situações, a criança sabe o que tem que fazer, não tem dificuldade motora para realizar o movimento, mas encontra impossibilidade de fazê-lo.

Dispraxia ou apraxia é um distúrbio neurológico?

A dispraxia ou apraxia é um distúrbio da função neurológica, ou seja, é um problema cerebral. A programação cerebral do movimento está prejudicada, resultando em uma execução inadequada, apesar de não haver alteração muscular nos órgãos responsáveis pelo movimento pretendido.

Embora seja uma alteração da função neurológica, geralmente não há alterações em exames de imagens cerebrais, como tomografia e ressonância, exceto em alguns casos de danos cerebrais, como acidente vascular, entre outros.

A dispraxia ou apraxia pode estar presente em crianças com diversas alterações do neurodesenvolvimento, como transtorno do desenvolvimento de linguagem (TDL), transtorno do espectro autista (TEA) e outros.

O que é APRAXIA DA FALA NA INFÂNCIA?

A apraxia da fala na infância é um distúrbio na produção dos sons da fala, no qual os movimentos motores orais e faciais específicos para a fala estão prejudicados. Para falar, a criança precisa programar neurologicamente os movimentos dos músculos da boca, lábios e língua, específicos para a produção de cada fonema, adequando também a velocidade de produção dos mesmos. Quando isso não ocorre, ela não é capaz de mover esses músculos corretamente, resultando em uma produção de fala com muitos erros e com ritmo alterado.

Qual o temo correto apraxia da fala?

O termo utilizado pelo ASHA (American Speech-Language-Hearing Association) é apraxia de fala infantil; no entanto, há uma variabilidade de nomenclatura dependendo de cada autor. Alguns autores utilizam os termos dispraxia oral ou verbal. A dispraxia oral é considerada um distúrbio dos movimentos orofaciais para gestos não verbais, enquanto a dispraxia verbal reflete a incapacidade de planejar e programar os comandos sensório-motores necessários especificamente para a fala.

Quando podemos suspeitar que uma criança apresenta APRAXIA DA FALA NA INFÂNCIA?

Nem todas as crianças são iguais; portanto, os sintomas podem variar bastante individualmente e de acordo com a idade.

Crianças menores que 3 anos podem apresentar:

  • Ausência ou raros balbucios;

  • Fala ininteligível;

  • Fala com trocas e omissões de fonemas;

  • Intervalo maior que o esperado entre o pensamento e a fala, mostrando sua dificuldade na elaboração da mesma;

  • Dificuldade em juntar os sons de fala;

  • Problemas com alimentação e mastigação;

  • Babação constante;

  • Dificuldade em realizar alguns movimentos com a boca, como estalos e mandar beijos;

  • Alteração no ritmo das frases, geralmente lentificado.

Crianças maiores que 3 anos podem apresentar:

  • Dificuldade em imitar sequências de sons e palavras;

  • Fala com trocas e omissões;

  • Maior facilidade em imitar as palavras do que dizê-las espontaneamente;

  • Movimentos da língua e lábios descoordenados durante a fala;

  • Piora da fala quando estão nervosas;

  • Alteração nas pausas das frases;

  • Alteração no ritmo da fala;

  • Dificuldade em se fazer entender oralmente por uma pessoa estranha a eles.


A APRAXIA DA FALA NA INFÂNCIA tem alguma causa?

Na maioria das vezes, a causa da apraxia da fala na infância é genética, relacionando-se a outros problemas de linguagem; no entanto, pode ocorrer por uma lesão cerebral, ter causa desconhecida, metabólica ou multifatorial, entre outros. Dispraxia em adultos pode ocorrer geralmente após acidente vascular cerebral, trauma cranioencefálico, tumores cerebrais, doença metabólica e outros.

A apraxia de fala pode estar frequentemente associada à dispraxia manual e dispraxia global, sendo necessária uma avaliação abrangente do desenvolvimento infantil, além das habilidades de fala e linguagem.

De acordo com a ASHA, a apraxia da fala tem uma prevalência de 6 a 10% em diversos estudos populacionais, afetando mais meninos do que meninas. Também é influenciada por fatores ambientais, culturais e socioeconômicos.

Como é o diagnóstico?

O diagnóstico de apraxia da fala, como em qualquer distúrbio do neurodesenvolvimento, é complexo. Portanto, deve contar com a avaliação de uma equipe multidisciplinar, incluindo principalmente médicos foniatras, e fonoaudiólogo. Dependendo do caso, terapeutas ocupacionais, psicólogos, neuropediatras, neuropisicólogos, entre outros, podem ser necessários.

Como é o tratamento?

O tratamento da apraxia de fala dependerá de cada caso, considerando sua associação ou não com outros distúrbios do neurodesenvolvimento. O principal objetivo é auxiliar a criança a pronunciar sons, palavras e frases com mais clareza; este aprendizado ocorre por meio de treinamento intensivo.

A terapia primária baseia-se em técnicas orais e verbais aplicadas de forma específica e individualizada pelo profissional fonoaudiólogo. O envolvimento da família e a participação escolar são fundamentais no processo terapêutico. Terapias ocupacionais e de psicomotricidade podem contribuir, especialmente na abordagem das práxis corporais e motoras finas. Além disso, a musicoterapia ou o contato com instrumentos musicais auxiliam a criança dispráxica a desenvolver noção do ritmo das frases e trabalhar o esquema corporal.

O tratamento pode demandar tempo, sendo crucial o apoio da equipe de profissionais que acompanham o paciente, orientando e motivando a persistência nas terapias. É essencial esclarecer aos pacientes e familiares que melhorar as condições de fala pode atenuar as consequências negativas psicossociais que o paciente pode enfrentar a médio e longo prazo, tanto no contexto escolar quanto profissional.

Referências Bibliográficas

ASHA – American Speech-Language-Hearing Association. Childhood apraxia of speech.

Piaget. J Les praxies chez I’ enfant. 1964.

Trastornos da Aprendizagem – Abordagem neurobiológica e Multidisciplinar Rotta NT, Ohlweiler L, Riesgo RSO




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